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Chile conclui resgate dos 33 mineiros em operação histórica

Todos os 33 mineiros presos nas entranhas do Chile voltaram a ver o mundo na quarta-feira, em um emocionante e histórico resgate que pôs fim à angústia de mais de dois meses.
Entre gritos de felicidade, aplausos e festejos, os homens que estiveram 69 dias isolados na mina San José emergiram à superfície, um de cada vez, na diminuta cápsula Fênix, depois de percorrerem 622 metros num túnel escavado na rocha sólida para esse fim.
Sirenes soaram e balões com as cores nacionais do Chile foram soltos no ar, funcionários se abraçaram e familiares correram para receber o último dos sobreviventes, o chefe da mina.
"Espero que isso nunca mais volte a acontecer", disse o mineiro Luis Urzúa. "Graças a todos, graças a todos os socorristas, graças a todo o Chile", afirmou ele, quem liderou os mineiros durante todo o tempo, planejou as atividades e ações diárias e organizou os turnos.
Os trabalhadores foram resgatados em uma operação sem falhas e que aconteceu de uma forma mais rápida que o esperado, acompanhada por milhões de pessoas de todo o mundo.
"Eu o recebo e o cumprimento porque você cumpriu com seu dever, saindo por último como faz um bom capitão", disse o presidente chileno, Sebastián Piñera, a Urzúa depois de abraçá-lo.
"Quero agradecer... os milhares e milhares que trabalharam incansavelmente para que vocês estivessem conosco", acrescentou o presidente entre aplausos e depois de dar o conhecido grito de comemoração no país: "Viva o Chile".
Os mineiros ficaram presos na mina San José por causa de um desabamento em 5 de agosto. Durante 17 dias, acreditou-se que eles estavam mortos, até que uma pequena sonda conseguiu chegar à área onde eles se encontravam, trazendo de volta um bilhete que se tornou famoso: "Estamos bem no refúgio os 33".
"Nascemos todos de novo. O coração estava me saindo pela boca", comentou Yessenia Segovia ao ver a subida de seu irmão Víctor Segovia, que escreveu dezenas de páginas dentro da mina, contando a história da tragédia.
Carlos Bugueño, de 27 anos, foi o 23o a ser resgatado. Como todos os demais, chegou num traje especial, para enfrentar a drástica diferença térmica, e com óculos escuros, para proteger a vista após o prolongado período na escuridão.
"Bem-vindo de volta à vida", lhe disse Piñera, dando-lhe um abraço.
Agora, o mineiro Ariel Ticona poderá conhecer sua filha batizada de Esperanza (Esperança), que nasceu há algumas semanas enquanto ele estava preso a quase 700 metros de profundidade.
Todos os mineiros foram levados de maca para um hospital de campanha montado ao lado do poço, e de lá para um centro médico na cidade de Copiapó. Em geral, apresentam boas condições de saúde. Somente um apresentava um quadro de pneumonia e estava sendo tratado com antibióticos, disse a jornalistas o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.
A operação foi acompanhada ao vivo por televisões do mundo inteiro e por milhões de espectadores, segundo as autoridades.
Os familiares pediram que a mina, que autoridades já adiantaram que será fechada, se transforme em uma espécie de santuário onde possam ir a agradecer pelo milagre.
"PARTO DA MONTANHA"
A operação de resgate acabou aproximando Chile e Bolívia, países vizinhos que não mantêm relações diplomáticas por causa de uma guerra no século 19, que privou os bolivianos do acesso ao mar.
Um dos mineiros é boliviano, e o presidente Evo Morales foi à mina San José para encontrá-lo e para agradecer Piñera pelos esforços.
Morales ofereceu casa e trabalho para o mineiro Carlos Mamani, que no entanto ficou de pensar melhor, segundo um dos seus dez irmãos, que viajou numa caravana de 35 parentes de Cochabamba até o hospital de Copiapó.
"Ele é um chileno a mais, assim deveríamos ser todos os países, todos irmãos," disse Víctor Zamora, outro mineiro resgatado, referindo-se a Mamani quando ainda era levado para o hospital de campanha.
Outro trabalhador, Edison Peña, fã de Elvis Presley, recebeu dos Estados Unidos um convite para visitar Graceland, a mansão do cantor morto em 1977.
A festa no Chile começou logo depois da meia-noite, quando buzinas, aplausos e sinos soaram no país inteiro para celebrar o "parto da montanha."
O mineiro Mario Gómez, o mais velho do grupo, contou o que viveu aos presidentes do Chile e da Bolívia.
"A única coisa que eu queria era chegar em cima. A vida é uma só, e aqui a gente pensa que é preciso mudar. Eu mudei, sou um homem diferente", afirmou.
Com um humor indestrutível, Mario Sepúlveda, o segundo a ser resgatado, apareceu com uma sacola amarela, da qual tirou pedaços de pedra que distribuiu como uma espécie de souvenir, inclusive ao presidente Piñera.
"Estou muito contente!", gritou Sepúlveda, rindo, socando o ar e abraçando todos os que estavam à sua frente. Mas ele também soube falar a sério.
"Estive com Deus e estive com o diabo. Os dois brigaram por mim, e Deus venceu", disse ele numa entrevista coletiva posterior, na qual cobrou mudanças abrangentes para garantir a segurança dos trabalhadores.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou a operação. "Esse resgate é uma homenagem não só à determinação dos trabalhadores de resgate e ao governo chileno, como também para a unidade e a determinação dos chilenos, que inspirou o mundo", afirmou.
Ele não foi o único a felicitar o Chile. Piñera recebeu também telefonemas dos seus colegas do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Argentina, Cristina Kirchner; do Peru, Alan García; do México, Felipe Calderón; e da Venezuela, Hugo Chávez.

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